[730 Coisas] Carrossel

1 de outubro de 2015



    Era um sábado frio e aconchegante para um dia inteiro enrolada nas cobertas, algumas guloseimas por perto e alguns filmes para relaxar. Eu queria (e precisava) ficar quieta, recusei convites de amigos para ir a festas, da família para vistar parentes distantes, dos colegas de classe para tomar algo. Precisava da minha própria companhia, e apenas dela, sem cobranças, sem deveres, sem micos em público. Mas confesso que o dia estava entediante, então decidi ir dar uma volta. Em poucos minutos, cheguei a um parque de diversões. Estava fascinada. 






     Haviam diversas barracas enfileiradas formando uma bela entrada principal. Os bichinhos de pelúcia pendurados do lado de fora eram um sinal de que poucos conseguiram acertar o alvo do jogo. Camisetas com frases engraçadas penduradas em cabides enfeitavam a lona colorida, e levavam a crer que as pessoas não achavam mais graça em qualquer coisa. Mas admito, as frases eram hilárias, ou talvez eu precise crescer um pouco mais, ou talvez os outros precisem de um pouco mais de inocência na vida. Comprei uma, na qual a frase era até que bonitinha. Acenei para o moço que me atendeu, e fui tentar a sorte no carrossel, quem sabe lá eu ficasse mais tranquila com meus pensamentos.

   O aroma de pipoca doce misturado com o cheiro de algodão doce era bem familiar. Palhaços passavam por mim, e me sentia uma formiguinha. Um deles me entregou um balão colorido, já que o parque estava praticamente vazio e não havia nenhuma criança pequena por lá. Subi em um dos cavalinhos com um balão colorido preso por um cordão nas mãos.

   Enquanto o carrossel rodava, fiquei observando as pessoas ao meu redor. Crianças brincando com seus pais, casais apaixonados comendo pipoca caramelada, pessoas gritando lá em cima na montanha-russa. Todas elas aparentavam um semblante alegre. Sorri, e soltei o balão de minhas mãos. Fiquei olhando-o voar por céu a fora, não me importando com mais nada. Por alguns instantes, me imaginei sendo aquela bola colorida voando aos quatro ventos. Tentei me imaginar livre para andar por aí, sem que nada e nem ninguém pudesse me tirar do chão. Fui interrompida de meus pensamentos pelo carrossel que acabara de rodar. Apesar de não ter tido muito tempo para a solidão, estava mais tranquila.
    
    Havia prometido para mim mesma que não compraria nenhum doce, mas não poderia voltar para casa sem a minha maçã caramelada, mas então abri o armário, e vi que não havia parque nenhum, carrossel nenhum, e maçã-do-amor nenhuma. Por vezes, minha imaginação sempre foi mais atrativa que a realidade, e ainda que insistam, sou uma caixinha. O cheiro doce de maça melada com cobertura de caramelo estava impregnado no meu moletom velho. Reconheceria esse cheiro em qualquer lugar.








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