Querida Infância

12 de outubro de 2015



   Uma coisa é fato: ter os joelhos e braços machucados de uma queda de balanço, é muito melhor do que ter o coração partido em pequenos pedacinhos. Por mais que eu repita diversas vezes que sou uma pessoa que possui a alma de quem assiste a desenhos animados e os acha mais interessantes que novelas, é provável que isso possa durar para sempre, porém, minha aparência física não irá acompanhar os meus pensamentos. É um tanto confuso como em um dia estamos usando roupas de adultos, e no outro estamos simplesmente servindo nelas como se fossem de nós mesmos. Evoluímos e crescemos mais rápido do que imaginamos. Acreditamos que a nossa querida infância irá durar uma eternidade a se passar, mas a saudade dela possui um peso maior. 



   Quando pequena, torcia de dedos cruzados e olhinhos fechados para que pudesse ser uma adulta responsável, independente e com uma carreira promissora. Torcia para que essa fase logo passasse, e eu pudesse me libertar. Mas infelizmente eu fui uma criança que precisou se tornar gente grande muito cedo, devido a alguns momentos da minha vida. E quando me dei conta de que estava realmente me libertando, já era tarde demais. Hoje, com 13 anos, e uma pouca experiência e intimidade com a vida, sou uma adulta em corpo de uma adolescente. Há cerca de 9 anos atrás, eu estaria aqui, hoje mesmo, sendo parabenizada por ser criança e recebendo o meu presente tão esperado. Estaria afundada em um sofá fofo e macio em frente à televisão e assistindo aos meus desenhos animados prediletos. Desenhos que ao assisti-los, eu me transformaria em uma menina super poderosa, em uma personagem de aventura ou em uma agente secreta com jatinho particular. Por vezes me transformaria em estilista, e desenharia vestidos incríveis que nunca sairiam do papel, ou então em uma professora, com meus bichinhos de pelúcia enfileirados em cima da cama me ouvindo falar por horas. Minha imaginação voava tão longe quanto minha criatividade.

   Obviamente ainda há a sensação de comer uma deliciosa maçã-do-amor e se sujar por inteiro. Ficar com bigode de chocolate-quente, e se sentir um confeiteiro, mesmo sendo menina. Correr pela casa, tropeçar nos móveis e se machucar toda. Mas não é a mesma coisa. Ah, a doce infância. Ainda não sei como as pessoas conseguem esquecê-las e fingir que nada disso aconteceu. Eu mal consigo aceitar deixá-la.

   Mas uma coisa eu sempre digo: todo mundo é uma eterna criança. Por mais que me contrariem, é verdade. Há uma música que diz: "Quem sabe ainda sou uma garotinha, esperando ônibus da escola, sozinha, cansada com minhas meias três quartos, rezando baixo pelos cantos [...] Pois sou criança e não conheço a verdade. Eu sou poeta e não aprendi a amar", e há quem diga que essa música possui seu duplo significado ou seja lá como queiram chamar, mas poucos a conhecem de fato. Então a deixo aqui, como uma vaga lembrança de uma eterna criança que sente saudade de sua doce infância. E irei dizer novamente: ser criança é uma delícia.

   

  


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